Monday, August 1, 2011

Luis Fernando Veríssimo e o fim do mundo

Luís Fernando Veríssimo

O jornal O Estado de São Paulo publicou mês passado uma crônica do famoso escritor Luis Fernando Veríssimo, cuja obra inspira a autoria de dezenas de textos que circulam pela internet em emails e blogs, muitos deles que nem foram escritos por ele. Desta vez o cronista escreve sobre a sua visão de fim de mundo e a explosão do sol, que segundo os cientistas não vai se extinguir explodindo em uma supernova mas sim definhando. Abaixo segue o copy e paste do texto publicado no site do Estadão:

O fim do jogo
21/7/2011 - O Estado de S.Paulo - Luis Fernando Verissimo

Tem um pensamento que me consola em casos de vexame, desgosto com a espécie humana, noticiário de Brasília ou derrota do Internacional. Penso: daqui a alguns milhões de anos o Sol vai explodir, a Terra vai virar cinza e nada disto terá muita importância. O perigo, claro, é o consolo se virar contra o consolado, pois se pensar na nossa morte pessoal já nos angustia, pensar na morte de todo o sistema solar, ao qual somos tão ligados, pode angustiar mais. Mas é bom aceitar o risco da angústia terminal, botar tudo em perspectiva e ver nossos infortúnios num contexto maior. Em latim fica mais bacana: "Sub specie aeternitatis". Do ponto de vista da eternidade, como dizia o filósofo Espinosa, segundo o Google.

Do ponto de vista da eternidade tudo tem o mesmo sentido, ou sentido nenhum. Surpreende que a frase não seja invocada mais vezes, por exemplo, nas crises econômicas. Sob o ponto de vista da eternidade o carrossel das finanças, a gangorra dos juros e das dívidas, o escorregador das falências nacionais e os balanços dos balanços não passam de brinquedos. Tudo é um jogo que só é dramático e afeta a vida de tanta gente porque lhe dão um sentido falso que omite a explosão do Sol, no fim, quando até o ouro virará nada. O fim do jogo, para quem o leva a sério, é um mítico mundo com as economias equilibradas e o mercado redimido e triunfante. Não é. O fim do jogo é o nada.

Os "indignados" que protestam nas ruas da Europa contra as medidas de austeridade que exigem sacrifícios dos já sacrificados para corrigir a safadeza alheia, da minoria culpada pela crise internacional, estão dizendo isto, que a vida é mais importante do que o jogo, que nenhuma promessa de sanidade econômica a longo prazo compensa a miséria humana agora - ainda mais que a longo prazo seremos todos cinza.

E se?. Já que falamos em vexame... Razão teve o Fernando Calazans, que sempre tem razão. E se os três substituídos pelo Mano Menezes, Neymar, Ganso e Pato, estivessem em campo para bater pênaltis, o resultado seria o mesmo? Nunca saberemos.


Muitos anos antes da publicação deste texto, Luis Fernando Veríssimo, ou LFV, já tinha escrito uma apresentação para o livro O Fim do Mundo Como o Concebemos, do filósofo Immanuel Wallerstein que tb teve o livro O Declínio do Poder Americano lançado no Brasil. O site Portal Literal, na matéria Verissimo apresenta o fim do mundo, publicado em 8/8/2008, reproduz o texto de LFV, segue o copy paste:

Portal Literal - Publicado originalmente em 26/02/2003

Um trampolim
Luis Fernando Verissimo

Existem autores-colchão e autores-trampolim, e já me explico. Autores-colchão são aqueles em que você se aconchega, certo de que passará algum tempo mergulhado no seu pensamento e esquecido do mundo. Sua mente se entrega à dele como, de alguma forma, um corpo se entrega a um bom e confortável colchão. Não que sejam, necessariamente, autores repousantes. O pensamento deles pode ser original e suas teses instigantes, mas você só reagirá ao que leu quando emergir do colchão. E o proveito que terá da sua leitura é o mesmo que tem de uma noite bem dormida: idéias claras, boa disposição, satisfação generalizada.

Já nos autores-trampolim sua mente mergulha e pula, mergulha e pula. Está constantemente abandonando o texto em divagações que o próprio texto sugere, pois cada sacada do autor é um impulso para um pulo que ela dá sozinha. Há muitos autores que valem mais pelos pensamentos que provocam, ou pela maneira inédita de pensar que exemplificam, do que propriamente pelas suas idéias. Marshall MacLuhan (lembra dele?) era assim. Marcuse era assim. Norman O. Brown era assim. Você estava sempre interrompendo a leitura de um texto deles para sair num vôo solo, inspirado pelo seu exemplo.

Immanuel Wallerstein é assim. É um pensador mais consistente e politicamente pertinente do que os citados acima, mas tem o mesmo poder de mandar a nossa mente pelos ares nas suas próprias buscas. Também faz analogias provocantes e ligações surpreendentes e gosta de incluir a geocultura - um termo que já inclui tudo - nas análises políticas e econômicas que faz dos seus "world systems".

Mesmo quando trata de detalhes específicos de coisas como sistemas hegemônicos em mutação ou declínio, sua visão é culturalmente paronâmica, e culturalmente informada como poucas. Pois mais do que um cientista político nos interpretando o mundo do homem econômico da sua forma peculiar, Wallerstein é um historiador da modernidade, da grande aventura humana rumo à utopia ou o caos.

Você não precisa concordar com ele para viajar com ele, e pode pular dele para outras conclusões. Só não espere sair da leitura deste livro reconfortado, como depois de um bom sono. Ela manterá sua mente acordada, e saltando, o tempo todo.

Pênaltis mal cobrados , impérios desmoronando, textos apócrifos e os sinais do fim do mundo como uma nova perspectiva, o ponto de vista da eternidade. Diante do caos e do apocalipse, seria melhor rir do que chorar?

2 comments:

  1. ai gent o mundo vai acabar quando deus quiser o homem num sabe de nada naum quem sabe é deus vai que elle queirá que o mundo acabe agora !!!!!

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  2. Ola Matheus, vc acredita na Biblia como registro da vontade de deus e o apocalipse descrito nela?

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